7:30 da manhã do dia 5 de Agosto de 2011, partida da Sé do Porto, como manda a tradição.
7:30 am, August 5th 2011, starting point Sé do Porto as tradition demands.
O que é que leva alguém a percorrer quase 500 km a pé no espaço de 3 meses?…
Quando em Maio chegámos ao albergue de Rates, o voluntário que lá estava na altura (Nuno) disse-nos que no próximo ano estaríamos de volta ao caminho. Na altura não percebi o que ele queria dizer e os meus pés doridos muito menos, por isso perguntei a razão daquela certeza. A resposta foi, ” O caminho vicia!”…
Em Agosto estávamos de volta.
Houve no entanto uma razão, um motivo, algo que sem dar-mos por isso de imediato, nos levou a querer voltar a viver tudo aquilo de novo…
Há um mês e pouco atrás, durante um passeio, acabámos por visitar Braga. Estacionamos perto da entrada para a zona histórica da cidade e assim que começamos a caminhar, descobrimos uma passagem aberta para o terraço de uma igreja, onde estavam vários vestígios arqueológicos. A igreja, descobri que era a Sé de Braga (onde tanto quanto me lembro, nunca tinha estado) e assim que entramos foi como descobrir aos poucos e em cada canto, pedaços do caminho. As duas imagens de S. Tiago o Maior (Santiago). O túmulo de S. Pedro Rates (a nossa primeira etapa do caminho), discípulo de S. Tiago e 1º Bispo de Braga. E assim, algumas semanas depois da nossa visita a Braga, decidimos sacudir o pó das mochilas e pô-las a uso mais uma vez…
In english
What makes someone walk almost 500 km in the space of three months?
When in May we arrived at the hostel in Rates, the volunteer who was there at the time (Nuno), told us that next year we would be back on the way. At the time, i didn´t realize what he meant and my sore feet neither, so i asked him the reason for that certainty. The answer was, “The way is addictive!”…
In August we were back.
There was however a reason, something that without us realising it immediatly, made us want to re-live all that again.
A month or so ago, during a car ride we ended up visiting Braga. We parked near the entrance to the city´s historical area, and as soon as we started walking, we found an open passage to the patio of a church, where were several archaeological remains. The church i discovered to be the Braga Cathedral (where as long as i could remenber i never had visited before) and as soon as we entered, we started discovering little by little and in every corner pieces of the way. The two images of St. James the Greater (Santiago). The tomb of St. Peter of Rates (our first step of the way), disciple of St. James and 1st bishop of Braga. And so , a few weeks latter we decided to shake the dust of our backpacks and put them to use once more.
A torre dos Clérigos ao fundo
Clérigos tower at the end
Casas abaixo da Sé
Houses on the way down from the Sé
“O caminho vicia!”…
Agora e depois de ter feito o caminho duas vezes, não sei se para mim esta é a melhor explicação. A mais simples? Sim, talvez… Para mim fazê-lo foi como mergulhar num universo paralelo. Vivi uma nova vida de cada vez que o fiz, com todas as peripécias que essa vida poderia abarcar. Noite e dia. Risos e lágrimas. Prazer e dor. Amizade e solidão. E tantas outras coisas.
Independentemente da crença (ou descrença) de cada um, não se pode negar que o caminho é uma jornada mística que cada um vive à sua maneira, de acordo com o que é e o que precisa naquele momento da sua existência…
In english
“The way is addictive!”…
Now that i have walked the way twice, i do not know if for me this is the best explanation. The simplest? Yes, maybe… For me it was more like diving into a parallel universe. I lived a new life each time i´ve walked it, with all the adventures that a lifetime can embrace. Night and day. Laughs and tears. Pleasure and pain. Friendship and loneliness. And so many other things.
Regardless the belief (or disbelief) of anyone of us, no one can deny that the way is a mystical journey that each one lives according to who they are and what they need in that precise moment of their existence…
A caminho de S. Pedro de Rates
On the way to St. Peter of Rates
E as histórias! As histórias são tantas que não cabem numa postagem por muito extensa que ela se vá tornando…
A história do peregrino Jorge (a mais engraçada de todas) que parecia um veterano do caminho mas que se veio a revelar apenas um miúdo com uma ideia romantizada do caminho e de quem perdemos o rasto em Ponte de Lima.
A história da placa de fogão da cozinha do Albergue de Valença que ninguém conseguia pôr a funcionar até que chamaram uma portuguesa (eu) habituada a esta coisa dos tachos e assim que ela a ligou, todos os que estavam na cozinha de volta da bendita placa começaram a bater palmas e foi uma festa.
E a história de uma rapariga belga que se foi misturando com a minha ao longo do caminho. Acabou por fazer connosco a última etapa do caminho até Santiago e acompanhou-nos no regresso ao Porto.
Desta vez guardei também as macieiras carregadas de maças e o cheiro dos pêssegos maduros nos pessegueiros junto aos muros das casas. Os campos de milho que pareciam um mar de verde ondulado de cada vez que o vento soprava mais forte. E as amoras e bagas de sabugueiro que comemos quase todos os dias.
Falei com muitas pessoas de muitas nacionalidades incluindo portugueses. Almocei com uns. Tomei café com outros. Uns provavelmente vou esquecer e uma em especial vou recordar para sempre (um beijinho para ti Katrien!).
Se Maio foi o mês dos alemães (um actor/apresentador alemão, publicou um livro sobre a experiência dele no caminho que foi um enorme sucesso, o que pôs muitos alemães a fazerem os vários caminhos para Santiago), Agosto foi o mês dos italianos, dos portugueses e dos espanhóis. Mas é muito diferente fazer o caminho em Agosto. O ambiente é mais turístico e festivaleiro e até os locais olham para os peregrinos de outra forma, não tão acolhedora.
In english
And the stories! The stories are so many that they can´t possible fit in one post, even if it gets bigger and bigger.
The story of pilgrim Jorge (the funniest of all) that looked like a veteran of the way but that has proved to be just a kid with a romanticized idea of the way and of whom we lost track in Ponte de Lima.
The story of the cooktop in the kitchen of the hostel in Valença that nobody knew how to work with, until someone called a portuguese girl (myself) used to deal with kitchen machinery and as soon as she turned the cooktop on, everyone who was in the kitchen around the blessed cooktop started clapping.
And the story of a Belgian girl (Katrine) who´s way mingled with mine. We ended up making the last stage of the way and the trip back to Porto together.
This time i kept the apple trees laden with apples and the smell of ripe peaches in peach trees along the walls of the houses. The corn fields that looked like a wavy green sea every time the wind blew stronger. And the blackberries and elderberries that we ate almost every day.
I spoke with many people of many nationalities, including Portuguese. I had lunch with some and had coffee with others. Some i´ll probably forget and one i´ll remember forever (cheers Katrine!).
If May was the month of the Germans (a German actor/tv presenter published a book about his experience on the way, that become a huge success, which brought many Germans to make the various ways to Santiago), August was the month of the Italians, Portuguese and Spanish. But it´s very different to walk the way in August. The ambiance is much more touristic and festival goers and even the locals look at pilgrims in a different way, not so welcoming.
Imagem de S. Tiago peregrino na igreja de S. Pedro de Rates
Image of St. James pilgrim at St. Peter de Rates church
O albergue de Rates
The Rates hostel
Igreja de Rates
Rates church
Ponte das Tábuas
Tábuas bridge
Depois de Tamel a caminho de ponte de Lima
After Tamel on the way to Ponte de Lima
Mercearia em Ponte de Lima e seta indicando o caminho
Grocery store in Ponte de Lima and yellow arrow showing the way
Anoitecer em Ponte de Lima
Night falling in Ponte de Lima
Valença
A ponte
The bridge
Tui
Catedral de Santa Maria de Tui
St. Mary of Tui Cathedral
Porta centenária e imagem de S.Tiago Matamouros na catedral de Tui.
Centenary door and St. James Matamouros image in Tui Cathedral.
Zona das Rias Baixas
Caldas de Rei
A caminho de Valga
On the way to Valga
A pedra (pedrón)onde supostamente a barca que carregava o corpo de S.Tiago foi amarrada. Está na igreja de Santiago de Padrón em Padrón. Estátua do peregrino no Albergue de Valga.
The stone (pedrón) where according to the tradition, the boat that carried St. James remains was tied up. It is in the church of Santiago de Padrón
A caminho de Teo
On the way to Teo
E mais uma vez celebramos a nossa chegada com mais uma missa do peregrino na Catedral de Santiago. Desta vez o patrocinador do incenso para o Botafumeiro foi um grupo de Brasileiros que íam a caminho das jornadas da juventude de Madrid. Este é o momento alto da missa que leva muitas pessoas às lágrimas e que acaba sempre com uma grande salva de palmas.
In english
And once more we celebrated our arrival with the Pilgrims Mass in the Cathedral of Santiago. This time the sponsor of the incense for the Botafumeiro was a group of Brazilians who were on their way to the World Youth Day Journey. This is the highlight of the Mass that brings many people to tears and it always ends up with a big round of applause.
Catedral de Santiago de Compostela
Santiago de compostela Cathedral
Mónica,
Não sei se teria a coragem e a capacidade de me lançar em semelhante empreitada, mas o teu post é realmente inspirador e faz-nos querer deitar pés ao caminho e experimentar essas vivências.
Beijinhos
LikeLike
Q post delicioso! Fiquei com imensa vontade de fazer o Caminho. Já a tinha, mas estava adormecida. E este post veio despertá-la!
LikeLike
AINDA ONTEM VI O FILME THE WAY SOBRE UM PAI QUE FAZ O CAMINHO ATÉ SANTIAGO DEPOIS DO FILHO TER PERDIDO A VIDA NO INCIO DO CAMINHO PARA SANTIAGO.
JÁ FOI A SANTIAGO MAS DE CARRO, E ACHEI A CATEDRAL LINDISSIMA,O BOTAFUMEIRO VI NO FILME E ACHEI LINDO. ADOREI A TUAS FOTOS E O TEU POST…LINDOS.
BOA SEMANA
BJS
LikeLike
Mônica,
que coisa linda foi ver essas fotos.
Parabéns, essa caminhada exercita a alma e o corpo se for inteligente segue atrás.
lindo.
5 bjs
das cozinheiras
LikeLike
Este é um dos sonhos que tenho há anos ainda não concretizei, não sei se por falta de oportunidade, por comodismo ou perguiça, mas este post deixou-me com tanta vontade de me aventurar… Um dia destes vai!!!
Beijinhos
LikeLike
Faltou dizer… de carro já fui várias vezes e adoro Santiago!!
LikeLike
Mónica,
Esta Mónica que aqui escreve, está toda arrepiadinha e já chorou baba e ranho com este post….
Costumo ler o teu blog e até já comentei a propósito do teu primeiro caminho, mas hoje…. o relato transpôs-me imediatamente para as minha próprias sensações de quando fiz o caminho… e as fotos…. bolas, são maravilhosas…
Para mim fazer o caminho é como lavar a alma, chegar a Santiago, depois de fazer o caminho, permite-nos quase renascer e enfrentar os obstáculos da nossa vida de outra forma (provavelmente da mesma forma que enfrentamos os obstáculos do caminho, certo?)
Mas fica aqui uma dica, para a próxima vez (porque há sempre uma próxima vez), experimenta o Caminho da Via da Prata, partindo de Salamanca ou de Chaves, ou até mesmo de Ourense se os dias de férias forem poucos, como foi o meu caso!
Eu, da próxima vez quero começar em minha casa: Santarém…
Se quiseres mais dicas, experimenta mandar-me um mail: monicamendoncasantos@gmail.com
Beijos e Muito obrigada pelas sensações
Mónica
LikeLike