Há mais a dizer a respeito do ovo, do que a resposta à velha pergunta sobre quem nasceu primeiro, se ele ou se a galinha. Até porque, verdade seja dita, o que é que isso realmente importa? Tudo o que me interessa saber é o bem que ambos sabem e esse “mistério” há muito que o desvendei.
Mas há ovos e ovos e há galinhas e galinhas…
Até há cerca de 3 semanas atrás, no que toca a ovos cá em casa, foi assim como fazer a travessia do deserto quase sem água. Que para quem conhece bons ovos caseiros é o equivalente a comer ovos do aviário. Eu até lhes acho graça. Agora já vêm com caca de galinha e por vezes com uma ou outra penita, como quem diz, ” Estes ovos são de galinhas a sério! Daquelas que fazem caca e têm penas!” Mas aqui, como em tantas outras coisas que fazem parte deste sistema/sociedade em que vivemos, nada mais há para além da superfície e assim que se parte a casca, é o vazio, ou neste caso, a gema sem graça e a clara quase como água. Pobres galinhas e pobre ovos… E mais pobre ainda o homem que a troco da produção massificada = lucro fácil, sacrifica tudo, até a si próprio sem dar por isso.
Mas ainda há esperança. Ainda existem, nas traseiras de muitos quintais galinhas felizes. Galinhas com penas coloridas, que são alimentadas com as couves e o milho criados da mesma terra que gostam de esgaravatar e debicar e que por isso nos dão ovos cheios de sabor, cor e textura. Galinhas que têm espaço para crescer, caminhar e apanhar sol e que por isso nos dão carne saborosa e firme. Que vivem ainda de acordo com o nascer e o pôr do sol. E não debaixo de lâmpadas que as fazem pensar que é sempre de dia, para que não parem de comer e assim crescerem rapidamente para o abate. Tempo é dinheiro e dinheiro é coisa que não se pode perder…
Se vocês soubessem…
Na casa da minha sogra vivem 4 galinhas assim. São para consumo da casa e são substituídas sempre que necessário e já aconteceu uma ou outra morrer de morte natural e nunca sequer chegar à mesa. E por serem bem tratadas, dão-nos os melhores ovos que alguma vez comi. Clara branca e firme, gema leitosa, super saborosa e de um laranja intenso, quase dourado. Como lhes senti a falta. Ovos caseiros! Venha mais um e nunca são demais.
O único inconveniente destas galinhas, é que não põem ovos durante os meses mais frios e pontualmente recorro aos de compra.
Desta vez foram apenas escalfados. Só uns breves minutos, suficientes para cozer a clara mas deixar a gema líquida, a escorrer em toda a sua colorida e deliciosa glória. Os meus dias são feitos de muitas cores mas o laranja gema é o tom do momento. Numa taça de ervilhas à portuguesa em que o chouriço foi substituido por fatias de cogumelos ostra, que apesar de não serem fumados, são ainda assim bastante carnudos.
Hoje é tudo para os ovos. Haverá tempo também para as ervilhas…
Continua…
In english
There´s more to say about an egg, than the aswer to that old question about what was born first, if the egg or the chicken. Truth to be told, is that really important? All that matters to me, is to know how good they both taste, and as far as i´m concerned that “mystery” has long been unveiled.
But there´s eggs and eggs, and there´s chickens and chickens…
Until 3 weeks ago, as far as eggs are concerned, we were kind of crossing the desert almost without water. And by this I mean, we spent a few months eating eggs laid by mass-produced chickens. Not pretty. I mean, i kind of think they are funny. Now they even come with chicken poop and sometimes we can even spot a small feather here and there, as a way of saying: “These eggs were laid by real chickens, that actually poop. Oh! And they have feathers too!”. But all of this, like with so many other things in this sistem/society that we live in, there´s nothing more beyond the surface, and as soon as you break the shell, all you end up with, is a tasteless, pale yolk and a runny, almost like water white. Poor eggs and poor chickens… And even poorer the man, that in exchange for mass production = easy money, sacrifices everything, even himself without even realizing it.
But there is still hope. There are still, in the back yards of some houses many happy hens. Chickens with colorful feathers, which are fed with kale and corn created of the land they like to scratch and peck, and therefor their eggs are full of flavor, color and texture. Chickens that have room to grow, walk and sunbath and therefore gives us tasty and firm meat. Still living according to the sunrise and sunset. And not under lamps that makes them think that it is always day, so they don´t stop eating, because they need to grow quickly for slaughter. Time is money and money is something one can not loose. If you only knew…
There are 4 happy chickens in my mother in law´s house. They live as i described above and are for consumption. They are replaced whenever is necessary. Sometimes one or another dies of natural causes and doesn´t even make it to the table. And for being well treated, they give us the most delicious eggs you can imagine. Firm white and deep orange, almost golden, super tasty, milky yolk. How I missed them. “Homemade” eggs! One more for the road and they are never too many!
They only have one catch (like all other chickens), they don´t produce eggs during the coldest months of the year, so i pontually have to buy them.
This time they were just poached. Only for a few minutes. Enough to cook the white but leave the yolk runny, to flow in all it´s colorful and delicious glory.
My days are made of many colors but the yolk orange is the tone of the moment, in a bowl of peas in which the portuguese chouriço was replaced by the oyster mushrooms, which despite not being smoked, are still quite meaty.
Today is all for the eggs, there will be time also for peas…
Continues…
Ingredientes: 4 pessoas
1 kg de ervilhas frescas, descascadas (usei frescas mas pode usar congeladas)
200 g cogumelos ostra, cortados em fatias
50 g de bacon cortado em tiras
1 lata de tomate em pedaços
1 cebola média picada
2 dentes de alho picados
3 colheres de sopa de azeite
1 raminho de salsa
1 folha de louro
4 ovos
Sal a gosto
Pimenta preta a gosto
Preparação:
*Aqueça o azeite num tacho grande e aloure o bacon com os cogumelos. Assim que parte da gordura do bacon tenha derretido, retire-o e aos cogumelos do tacho e junte à gordura a cebola, o louro, a salsa e o alho, deixe refogar até começar a alourar.
*Junte o tomate, novamente o bacon e os cogumelos e 2 dl de água, deixe levantar fervura e tempere com sal e pimenta a gosto.
*Cozinhe 15 minutos com o tacho tapado.
*Junte por fim as ervilhas e cozinhe por mais 3 minutos que é o suficiente para que elas fiquem tenras e verdes.
*É claro que podem deixá-las cozinhar um pouco mais se assim o preferirem. Basta vigiar até ficarem no ponto de acordo com o gosto de cada um.
*Agora os ovos.
*Leve ao lume uma caçarola alta e larga ( para que os ovos tenham espaço suficiente) com água sem sal e assim que levantar fervura, baixe o lume para o mínimo.
*Parta 1 ovo de cada vez para uma tacinha e depois verta-o na água ao lume (eu escalfo 2 de cada vez porque para mim é mais fácil). A clara vai espalhar-se o que é normal. Com uma colher, puxe a clara para cima da gema e deixe na água por 2 minutos se gostar da gema líquida e até 5 minutos se preferir a gema mais firme. Retire da água e coloque num prato aquecido.
*Se gostar dos ovos bem escalfados, pode juntá-los diretamente às ervilhas, para isso, faça 4 cavidades nas ervilhas e parta 1 ovo para dentro de cada uma. Deixe cozinhar mais 5 minutos.
*Sirva as ervilhas a gosto com os ovos a acompanhar.
Nota: Se usar ervilhas congeladas, o tempo de cozedura deve ser um pouco mais longo.
Dica: Sempre que fico com sobras deste prato, uso-as como calda para arroz. É só juntar um pouco mais de água, retificar os temperos e juntar o arroz. Fica realmente bom!
Ingredients:
1 kg fresh peas (without the pod)
200 g oyster mushrooms cut into slices
50 g bacon cut into pieces
1 can of diced tomatoes
1 medium onion, chopped
2 cloves of garlic, chopped
3 tbs olive oil
1 small bunch of parsley
1 bay leaf
4 organic eggs
Salt to taste
Black pepper to taste
Preparation:
*Heat the olive oil in a pan and sautée the bacon and the mushrooms until slightly browned.
*Remove the bacon and mushrooms from the pan and add the onion, the parsley, bay leaf and garlic to the sizzling fat. Give it a good mix and cook for a couple of minutes, until tender and slightly golden.
*Add the tomatoes and 2 dl water. Let it come to a boil and season with salt and pepper to taste.
*Cook with the lid on for about 15 minutes.
*Finally add the fresh peas, give it a good mix and cook for 3 minutes, which is enough time for them to become tender and keep that gourgeous tone of green.
*Now the eggs.
*Fill a large and deep, heavy bottomed pan with water until 3/4 and bring it to a boil.
*Once it starts boiling, bring the heat down.
*Break one egg at a time inside a ramekin and then drop it inside the pan and star pushing the white to the middle (top of the yolk). I poach two eggs at a time, because i find it easier.
*If you want your yolk runny, like i do, cook for 2 minutes. If you want it firm, then cook up to 5 minutes.
*You can also cook the eggs with the peas. Make 4 holes in the peas and break each egg inside each hole. Cook for 5 minutes more.
*Fill each plate with the peas and put 1 egg on top.
bem do meu agrado, com um aspeto bem convidativo 🙂
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Tenho uma colega que também utiliza a expressão “galinhas felizes”. É verdade que os ovos caseiros são imensamente superiores aos de compra. Quando a minha avó era viva, tinhamos muitos ovos caseiros pois ela conhecia muitas pessoas que os traziam para vender no Porto. Lembro-me do pão de ló feito com eles, amarelinho como sei lá o quê!
Hoje em dia os ovos caseiros chegam até nós através da minha sogra e quando os tenhos são reservados para comer escalfados, estrelados, cozidos, mexidos, em omelete, tanto faz, mas desde que sejam eles o ingrediente principal para poderem revelar todo o seu sabor… Mas sim, eu seria feliz se vivesse no campo e me alimentasse de tudo caseiro!
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Boa tarde Mónica!!!!
Aqui em casa tb abundam ovos caseiros… mas os meus não ficam com este aspecto delicioso… ehehehehe… será que é pq não são servidos assim numa “mesa rústica” linda?!
Beijinhos de saudades 🙂
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Mónica,
não imagina o quanto me identifico com este post, tanto na vertente do prato em si, como no prefácio da receita.
Concordo com tudo o que diz. Tenho o mesmo problema: não consigo comprar ovos no supermercado. Em minha casa sempre houve ovos caseiros. Por isso, eu mesma já tive, curiosamente, também quatro galinhas só para retirar ovos. Infelizmente, não pude continuar com elas e devolvi-as aos meus pais. Mas, pelo menos uma vez por mês, tenho ovos caseiros que os meus pais me trazem. E que diferença! E as claras? Quando as batemos, nota-se a diferença no processo e no resultado.
Gostei muito deste post.
Paula
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Que refeição deliciosa!
Beijinhos
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Adorei o blog, muito bonito, resolvi até seguir… Convido-te a conhecer o meu também… Parabéns pelo blog Bjkax
http://paladaresdapaparoca.blogspot.com
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Olá Mónica!
O teu texto mexeu comigo… Se fossem só as galinhas… Há muito que os homens aprenderam a enganar a natureza, na*o respeitam ciclos nem estaco*es, triste, enfim…
Os ovos das nossas galinhas biologicas, sa*o um encanto, pequeninos, de várias formas (sim uns mais elipticos outros parecem bolas de ping pong!), um verdadeiro milagre da natureza!
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Parabéns pelo blog, venho aqui muitas vezes, gosto muito.
Gosto muito deste texto porque o sinto…
Para fazer os últimos biscoitos, o pai fez 30km depropósito para me trazer os ovos.
Alguém me disse que os biscoitos ficavam caros…e eu pensei… não, ficam muito mais saborosos.
Cá em casa são ovos de galinhas assim que comemos, dados pelos meus pais e tios. Sentimos mais a falta quando a raposa leva as galinhas todas numa só noite, pois ela faz todos os dias a ronda noturna. Da última vez (pelo Natal), foram 7 ou 8, como não teve tempo de as “acartar” todas, deixou 2 enterradas debaixo duma àrvore do quintal, matreira.
Às vezes também há raposas felizes.
Sandra
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Beautiful!!!
All I can say I am absolutely in love with your blog and gorgeous photography!!!
Yes I totally agree with you there is so much more to be said about an egg…
Delicious looking dish!!
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Olá Sabor a casa
É bastante saboroso! Obrigada 🙂
Olá Ondina
Pão de ló no seu melhor tem que ser feito com ovos caseiros, concordo contigo. Ovos assim tornam tudo muito mais saboroso.
Olá Sophy!
Quantas vezes me lembro de ti. Sempre que olho para as minhas mesas rústicas! 😀
Por aqui também há saudades 😉
Notas soltas e coisas doces
Também já pensei várias vezes em ter 2 ou 3 galinhas aqui em casa, só pelos ovos mas como a minha sogra vive a 5 minutos de mim, é só lá ir e trazê-los sempre que os há.
Obrigada pela visita Paula!
O cantinho da sofia
Obrigada e bjs 🙂
Sara Graça
Obrigada pela visita 🙂
Pammy Sami
É verdade! Mas há que valorizar o que de bom se vai fazendo. E apesar de nunhum de nós ser perfeito, tentarmos fazer um pouco que seja para minimizar os danos.
Trabalho a 4 mãos
Muito obrigada!
É verdade! Também as raposas devem ser felizes. Equilíbrio é a palavra chave.
Reem Simply Reem
Thank you so much :))
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Que saudades de um bom ovo escalfado… estas fotografias abrem o apetite e de que maneira!
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Tenhoa sorte de ter uma amiga que por vezes me oferece uns ovos (e umas couvinhas) caseirinhos. E que diferença faz! Da próxima vez que tiver uns ovos caseiros vou fazer este prato, que me parece delicioso.
Beijinho
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Mesmo como eu adoro…
Beijinhos,
Lia.
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