Serralves em festa! # Tripas à moda do Porto

Já estava decidido. Este fim de semana, mais tarde ou mais cedo íamos até Serralves. Escolhemos ir no Domingo. O sol não estava tão tímido e tínhamos todo o tempo do mundo para explorar as ofertas de espetáculo e cultura espalhadas pela Fundação.

Quando lá chegámos, a animação já se sentia. Muitas pessoas e muitas famílias com as suas crianças que passeavam balões azuis. Pontos de cor que esvoaçavam no ar, contrastando com o verde da vegetação.
Começamos na zona do Ténis, onde assistimos à música erudita dos “Aprendizes de fazedores de música”, enquanto tomávamos um café, à sombra das glícinias. Pela Alameda dos Castanheiros passava o Teatro de rua “Pink suitcases”. Um grupo de atores a representarem enquanto caminhavam e que chamavam a atenção pelas roupas que vestiam e pelas gargalhadas que davam sempre que faziam uma paragem, divertindo as pessoas à sua volta. Muito engraçado mesmo!

À mesma hora, no Bosque, tinha começado o teatro de marionetas “Cabaret on strings”, um espetáculo super animado, colorido e muito bonito, tanto para miúdos como para graúdos. Fiquei com vontade de trazer uma daquelas marionetas para casa comigo!

Saímos do Bosque e fomos até ao museu ver as exposições “Off the wall” e “In itinere” e porque uma imagem vale mais que mil palavras, as imagens (algumas) estão em baixo.

Depois do museu, fomos até à Alameda dos castanheiros onde estava a “Feira de artesanato urbano e produtos biológicos”. Peças variadas  feitas em tecido, bijuterias, doces caseiros, vinhos etc. O sítio certo para comprar coisas bonitas e feitas à mão.

Começámos a descer. Passámos pelo lago mas dos patos nem sinal. Talvez estivessem no outro extremo do lago a aproveitar a generosidade dos visitantes que gostam de lhes atirar pão ou bolachas. Ou, quem sabe até, um pedaço de cachorro! Pobres animais! Mas, também é natural que até eles cometam excessos nos dias de festa. Digo eu!…

Já no prado da quinta, preparava-se o palco para o concerto de início de noite. Várias roulotes de cachorros, hambúrgueres e afins, e claro, vários postos de cerveja que isto de assistir a concertos em pé e ao ar livre  não é pera doce. É preciso muito hidrato de carbono e pelo menos um copo de cerveja bem gelada na mão, para manter os níveis de energia lá em cima!
Feito o reconhecimento do terreno, voltámos a subir em direção à  Clareira das Bétulas para assistirmos aos acrobatas “Arcane”. Dois homens, uma roda gigante e muita força muscular. Ponham-nos em cima de um palco e vejam do que eles são capazes!

Depois dos “Arcane” regresso a casa, onde nos esperava uma boa dose de Tripas à moda do Porto. A verdade é que as tripas já tinham sido feitas no Domingo da semana passada mas como sou uma mocinha que gosta de bons hábitos,  faço sempre em quantidade para congelar. As Tripas tal como outras feijoadas, ficam muito melhores depois de algum tempo na arca. Apuram e ficam mais apetitosas. E como sabia que ontem não tinha hora para chegar a casa, na noite de Sábado tirei a caixa com as Tripas do frio e no dia seguinte foi só aquecer e fazer um arroz branco e seco para acompanhar. Nem sempre sou assim tão organizada, mas desta vez portei-me bem!

Em Serralves celebrámos a cidade do Porto através da cultura e do espetáculo democratizados. Em casa celebrámos com o prato mais democrático desta cidade. É um ex libris gastronómico e faz-se a preceito em algumas das tascas mais emblemáticas do Porto, mas até os seguidores da cozinha Gourmet e outros clientes improváveis lá vão para as comer e em doses generosas! que o Porto tripeiro não é cá dado a minimalismos nem a snobismos gastronómicos. E ainda assim, sabe comer muito bem muito obrigada!

É habitual as Tripas levarem orelheira, salpicão e carne de cabeça de porco. A primeira e a última dispenso e a do meio, não tinha em casa na altura em que fiz o prato. Sintam-se à vontade para as juntar à lista de ingredientes, cerca de 100 g. de cada. Já o chouriço eu prefiro o picante e se for extra, ainda melhor. Já quanto ao feijão, por favor usem seco. Feijão em lata aqui não vale, é fazer batota. Esta feijoada faz parte da nossa história e património,(de todos, não só dos tripeiros). Merece ser tratada com dignidade e tem que saber 100% a feijão e não apenas 10%. Aliás, isto vale para todas as feijoadas por esse Portugal fora que para alegria de todos nós, bons garfos, ainda são algumas! 🙂

Tripas à moda do Porto

Ingredientes:
1 kg. de feijão manteiga (seco)
500 gr. de tripas
100 g. de chouriço de carne (picante)
1 mão de vitela
100g. de toucinho
1/2 frango
3 cenouras médias
2 cebolas grandes
2 colheres de sopa de azeite
1 colher de sopa de banha de porco
1 ramo de salsa
2 folhas de louro
3 a 4 colheres de sopa de polpa de tomate
Sal a gosto
Pimenta preta a gosto

Preparação:
*Ponha o feijão a demolhar durante a noite.
*No dia seguinte, leve as tripas e a mão de vaca a cozer de preferência numa panela de pressão, até ficarem tenras.
*Numa outra panela, leve as restantes carnes a cozer.
*Ponha o feijão numa panela bem grande, com água (onde caibam as carnes também) e junte-lhe uma cebola cortada em gomos e as cenouras descascadas e inteiras.
*Leve a cozer até o feijão começar a ficar tenro. Lembre-e de que ele ainda vai cozer mais um pouco com as carnes para apurar.
*Pique a segunda cebola e refogue-a no azeite e na banha até alourar. Junte as carnes cortadas em pedaços pequenos e o chouriço em rodelas. Regue com um pouco da água da cozedura das carnes (tripas e frango etc.) e deixe apurar 10 minutos.
*Tire as cenouras da panela do feijão e corte-as às rodelas.
*Junte o refogado de carne e as cenouras à panela do feijão cozido.
*Tempere com a salsa, o louro, a polpa de tomate, sal e pimenta preta a gosto.
*Esmague 1 ou 2 conchas de sopa de feijão e junte à panela , isto faz com que o molho engrosse um pouco, e deixe apurar (15 a 20 minutos) em lume não muito forte pois pode queimar. Convém mexer de vez em quando.
*Sirva com arroz branco, seco.
*Em minha casa, esta quantidade de tripas dá para 3 refeições (4 pessoas).