Piodão-Bela aldeia vestida de xisto e enfeitada de azul

O Piodão è uma aldeia de sonho, cuidadosamente guardada por uma Serra de encantar.
Em plena Serra do Açor, protegida pelas encostas de xisto e rodeada por quelhadas*, vive ainda, uma das mais belas aldeias de Portugal, o Piodão.
Ainda na estrada que serpenteia por entre a serra e que nos há-de fazer chegar ao sopé da aldeia, já se vê lá mais abaixo o casario de xisto e telhados negros.
O dia está cinzento e o branco e riscas de azul vivo da igreja matriz da Nª Sª da Conceição, aparece ao longe como uma luz brilhante, iluminando a aldeia com a luz da cor mas também com  a luz da santa padroeira que a proteje.
Aqui e ali, destinguem-se pontos de azul vivo, o mesmo tom de azul das riscas da igreja. São as janelas e portas das casas altas e estreitas do Piodão. Ninguém sabe explicar muito bem a origem da escolha desse tom de azul que sobressai nas paredes escuras de xisto. Há quem diga que era a única cor existente à venda na loja da aldeia e por essa razão, as portas e janelas foram sendo pintadas nessa cor que lhe fica tão bem.

No largo da aldeia, o colorido das bancas de artesanato serrano, dá-nos as boas-vindas. Roupas de lã, pequeninas cópias das casas de xisto, mel e aguardentes de medronho e de mel podem aqui ser comprados. Pequenos pedaços da serra que se podem levar para casa.
À direita está a escadaria da igreja matriz, que se calcula ser uma construção do séc.xvii.
Feitas as apresentações, uma passagem estreita leva-nos à descoberta da beleza das casas da aldeia.
Logo ali à frente, está a loja do Sr. Alexandre que vende artesanato mas também, arroz, açúcar e demais bens de primeira necessidade.
Seguimos em frente por caminhos de xisto, contornando as lindas casas com cortinas pequeninas nas janelas debruadas a azul, umas de renda outras de tecido. Por cima de algumas portas, veêm-se cruzes de madeira pregadas na parede que os habitantes acreditam serem um amuleto contra as trovoadas, apelam à protecção de S. Bárbara nos dias e noites de tempestade.

Começamos a subir até ao topo da aldeia para podermos apreciar a vista da paisagem que a envolve e a caminho passamos pela fonte dos algares com o seu arco ogival de xisto.

A subida é acentuada e o frio que faz torna-a um pouco mais difícil mas seguimos, até deixarmos todas as casas para trás.
No caminho paro para registar imagens de tudo o que me desperta a atenção.
Já lá no cimo, o vento que sopra na serra, faz com que seja impossível demorarmo-nos ali e assim a descida começa, para só paramos na loja do Sr. Alexandre cujo cesto com boinas pretas típicas da zona e  lenços de tabaqueiro me faz parar e lembrar de um lenço igual que eu tenho desde miúda e que me foi dado pelo meu pai.

Entramos na loja e comprámos mel.
A certa altura o João pergunta ao Sr. que è o dono da loja, o que aconteceu ao edifício que há cerca de dezassete anos atrás, estava em construção na entrada da aldeia, altura em que visitámos o Piodão pela última vez. E assim foi dado o mote para que nos fosse revelado um pouco do cenário político que envolve a aldeia. Na verdade algumas coisas mudaram desde a nossa última visita, agora existe uma estalagem construída com os materiais da zona e bem enquadrada na paisagem mas existe também um edifício moderno que nada tem a ver com o resto e que destoa da restante arquitectura. È caso para dizer não há bela sem senão!…

Quanto à mesa serrana, ela é recheada pelos pratos de cabrito, seja ele assado ou de chanfana e também a sopa de castanha pilada è uma referência na zona, assim como o mel e as aguardentes de medronho e mel.

Acabada a visita fiquei a pensar que foi bom voltar ao Piodão passados tantos anos mas ainda me lembro da primeira vez que lá fui com os meus pais, era eu ainda uma miúda. Nessa altura o piodão era um tesouro por descobrir, não havia turistas nem bancas de artesanato mas haviam na tasquinha da aldeia umas sandes de presunto e chouriço serranos que apesar da minha tenra idade quando as provei, nunca mais as esqueci. Isso, a beleza das casas e a tranquilidade que se sentia na aldeia, são as memórias mais entranhadas que eu tenho do piodão.

*Quelhadas: Socalcos